Memórias de Ana: Domingo de manhã

10:05



Meu nome é Ana, moro em Amsterdã desde de... Bom, muito tempo. Agora é inverno, e flocos de neves estão caindo em minha janela, esse ar ah! como eu o amo. Estão sendo tempos difíceis agora, penso se é o frio ou a saudade que me sufoca e me causa grandes calafrios. Eu estou olhando para fora em busca de algum feixe de luz do prédio a frente, não sei quem mora ali mas sabe, nesse momento poderia ser uma moça que coleciona discos antigos, ou aquele moço que se senta sempre no banco da esquina com seu café quente e seu jornal na mão, poderia ser qualquer deles, só não poderia ser você.

Senti um leve frio na barriga, de novo não. Peguei meu celular quase trinta vezes hoje, na esperança de um bipe seu, um bipe de uma mensagem de  você Felipe, está demorando a voltar, sua regata está desbotando talvez porque eu lave demais esperando que chegue de surpresa em uma manhã dessas de domingo. Mas você odeia domingo. Seu jornal continua em cima da mesa, confesso que olho as vezes, eu sei que parece loucura pensar que um jornal de papel é uma parte de você.

Felipe, se estivesse aqui comigo, no sofá contando suas histórias como se você vivesse elas, eu esperaria você terminar  e começaria a rir e palpitar com frases como: "Mas, amor, por quê ela tem que sempre andar pelos mesmos caminhos, será que ela coloca pedrinhas para ver o caminho de volta?", e tenho certeza que sua risada rouca me faria confessar muita coisa, como por exemplo, quando você vai trabalhar, eu visto aquela sua camisa leve, aquela branca que tanto absorveu seu perfume, e também que quando você dorme eu olho para suas caretas e imagino se estivesse criando mais uma das suas histórias.

"Ana! Volte para você". Penso isso a cada cinco minutos, eu insisto em olhar para janela para ver se te vejo chegando, mas vejo aquele figurante que mora a quatro quadras daqui. Eu penso em te mandar uma mensagem, mas você me disse para mandar cartas, eu li as suas, todas, as oito que me mandou em duas semanas, adoro esse jeito todo antiquado, toda vez que olho para sua escrivaninha ali no canto eu vejo você de óculos lendo algum conto de um autor desconhecido.

Eu sinto a saudade sufocante, mas você não me provocou isso, foi o tempo. Você se mantém aqui, mesmo que seja por cartas ou suas camisas, e até mesmo seu jornal ali na mesa. Felipe, te peço, que se voltar em uma manhã, e se eu estiver dormindo, não me acorde. Deite do meu lado, e me abrace.

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